sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A repressão

Quando o golpe militar se efetivou, caiu sobre a população brasileira, em especial a mineira, um sentimento de perda irreparável. Nós , mineiros, sofremos um pouco mais. Afinal, para o mundo, foi com nosso apoio que os militares tomaram o poder. Isto não foi, exatamente, verdade. Admito que os setores mais conservadores religiosdos e políticos saudaram a "revolução redentora" que iria acabar com a "ameaça comunista de tomada do poder". Os mais esclarecidos, mesmo entre estes,sabiam muito bem que isto era uma balela. O presidente Jango era cria do Getúlio. Este pode ter sido um populista, nunca um comunista . Teria escolhido Jango para ser o seu sucessor no estabelecimento da IDEOLOGIA TRABALHISTA. Tinha muito a ver com o justicialismo de Juan Domingo Peron. Os dois, muito a ver com Benito Mussolini. Até a CLT , dizem, é uma cópia da "Carta Del Lavoro" de inspiração fascista. Como poderia o latifundiário, abastado, querer implantar um sistema que iria contra os seus interesses particulares? O comunismo é revolucionário. O trabalhismo é reformista. Se alguém dissesse, na União Soviética de Stalin, que era um reformista... Teria que se haver com o Béria. Talvez este mandasse executá-lo bem devagarinho...Os esclarecidos, mesmo golpistas, sabiam disto. Mas, se o motivo agradava, para que mudá-lo? Na realidade pretendeu-se um governo com a disciplina dos quartéis. Porém, a política exige talento. A troculência é inimiga da política. Todos os regimes ditatoriais se deram muito mal. Se ainda existem, breve não existirão. Não têm futuro. A democracia socialista de Marx abomina a ditadura. Lenin a usou porque a Rússia estava destruida pelas guerras, material e moralmente. Para não sobrevir o caos, Lenin implantou um plano ecoômico, o NEP, e a ditadura do proletariado com data marcada para acabar. Seria em 1924, ou seja, teria cinco anos de duração.Depois, como ele bradou:todo o poder aos sovietes!O povo compunha os sovietes (comunas). O comunismo é o sistema mais democrático que existe. Acaba com todas as formas de opressão e entrega o poder para que o povo o exerça em toda a sua plenitude. É uma utopia? Talvez seja. Mas, acredito que, num futuro não muito distante não restará ao homem outra alternativa.Quanto ao ateismo marxista, eu diria que o tempo dele era bem diferente do de hoje. Havia uma igreja que dominava pelo terror. Era difícil crer na boa fé dos crentes. É aquela história: ou você está comigo ou está contra mim. Assim que se pensava. Hoje, tudo mudou, graças a Deus. Vejo muitas coincidências na pregação cristã e comunista. Tirando o misticismo são quase idênticos. Ou tirando o ateismo.
Assim ,comecei a pensar, quando a propaganda dos golpistas justicava a ditadura como necessária para destruir os comunistas. Como eu pertencia à JEC, JOC e frequentava a JUC, eu tinha noções básicas sobre o marxismo. Discutíamos as coincidências. E as divergências também. Não aderira ao partidão até então. Mas, a repressão estúpida e cruel me fez mergulhar nos livros e estudar, mais profundamente, esta ideologia. Ouvira oradores tidos como comunistas. Francisco Julião, defensor da reforma agrária, foi um que eu ouvi. Falava com uma técnica extraordinária. Ficávamos a ouví-lo por horas sem cançar. Antes do golpe eu ia ouvir também os mais ligados à religião. Ouvi o fascista Plinio Salgado. Sai tonto de dúvidas. Se o fascismo era tão execrável, como podia um homem tão inteligente e culto fazer parte dele?Lembro-me que ele falou sobre a história do Brasil. Durante cinco horas! Não percebi o passar das horas. Foi uma aula das mais impressionantes que já assisti. Noutra oportunidade fui ver o Santiago Dantas tido como de esquerda. Outro show. Que inteligência! Prestes , baixinho, não me agradou pela figura que eu julgava de um homem alto e forte. Mas, quando começava a discursar, crescia e parecia um gigante!Compreendi porque homens como Eduardo Gomes e Juarez Távora, além de outros iguais, seguiram-no como ao "cavaleiro da esperança" na famosa Coluna Prestes. Hoje não se ouve oradores como naquele tempo. Começava nas salas de aula. Os nossos professores eram artistas da palavra.Depois veio o silêncio das ditaduras.
Mas , esta minha admiração pelos oradores e o meu interesse em conhecer mais o marxismo custou-me um ótimo emprego.Trabalhava como vendedor na Cia. de Cigarros Souza Cruz e, conforme já contei, fui dispensado por causa de uma denúncia que poderia ter me custado também a vida. Quem escreveu a carta? A minha própria mãe. Eu já contei porque. Ela não permitiu que eu tivesse acesso aos telegramas que o Bco. do Brasil enviou me chamando para tomar posse como funcionário concursado. Por que me odiava tanto? Certa vez ela me disse que não sabia porque. Vários colegas da Souza Cruz foram presos, especialmente os do Sindicato dos Fumageiros.Eu também era sindicalizado. Não tinha cargo na diretoria. Por isto, escapei.
Sai de lá e fui à luta. Vendi vários produtos como autônomo. É aí que fui trabalhar em laboratório farmacêutico. Passei por uns dois até que fui chamado, depois de exaustivos testes, para trabalhar na PFIZER. Fiquei lá doze anos. Um bom tempo. Depois eu conto.

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