domingo, 23 de agosto de 2009

Estranho futebol

Conheci o futebol, como todas as crianças do meu tempo, nos terrenos baldios onde com a molecada jogava as saudosas peladas. O dono da bola tinha lugar assegurado no time e no jogo. Ele e o líder , no par ou impar, escolhia quem jogaria com quem. Eu nunca fui um dos primeiros escolhidos. Também nunca fiquei entre os últimos. O problema era que , quando garoto, era raro não ser excluido da pelada porque eu tinha pavio curto. Um pisão, um empurrão, uma rasteira e pronto: era porrada para todo lado. Apanhava de dar dó, mas batia também. Às vezes apanhava mais, batia menos. Ou vice-versa. Mas, briga de criança, mesmo que corra sangue, não dura até a próxima pelada. Vinha outra, e lá estava eu e o desafeto, ou os, mais amigos do que nunca. Nos domingos íamos para os campos de várzea, sem bilheterias ou arquibancadas. Não havia conforto mas, era grátis. Lembro-me de um, na Renascença, de propriedade do Continental F.C., que ficava no alto do morro. De vez em quando ou a bola ou um jogador, rolava pirandeira abaixo. Lembro-me de um amigo, Geraldo Venâncio, que conseguiu ser titular, apesar de ainda garotão, por ter muita valentia. A bola passava, o jogador não. Levava uma pernada de arrebentar. A torcida rude e pobre, queria ver sangue. Se o adversário rolava pelo campo a gritar de dor era motivo de satisfação. O agressor era o herói.
Quando eu vejo hoje jogadores profissionais gemerem e chorarem por causa de um esbarrão, volto àqueles tempos.Futebol é prá homem! A torcida gritava exigindo mais troculência. Fui crescendo e , ficando rapaz, passei a integrar alguns destes times. Cheguei, junto com o Modestino e o Geraldo Venâncio a criar um: Novo Horizonte Futebol Clube. Escolhemos a cor da camisa:vermelha. O calção seria branco. Meias vermelhas. O escudo mostrava um sol por trás de uma montanha. Nascente, poente? Ficava ao critério do torcedor. Suponho que, até hoje ,na antiga Vila Ipiranga, ainda existe e até muito mais forte e organizado. Será que eles, os atuais diretores, sabem que foram três adolescentes que, sentados na rua Tefé, Renascença , tiveram esta idéia e a puseram em prática? Não tínhamos sede. A casa do Modestino era a sede. Muito legal. A família dele era algo de espetacular. Gente muito boa! Nos tratavam com paciência e carinho.Até lavavam nossos uniformes! Nem todos tinham chuteiras. Havia quem não tinha o quédes. Jogava descalço. Dá para imaginar? Chuteiras antigas, couro duro, travas ferinas, e o cara descalço! E preferia jogar assim! Destes campos sairam jogadores que conquistaram o mundo! Garrincha adorava os jogos de várzea de Páu Duro. Chegava a fugir das concentrações para jogar na sua terra, num campo sem grama. Iam atrás dele e não era fácil convencê-lo a cumprir o contrato profissional. Oito filhas para criar era o único argumento convicente. E ele , com Pelé e cia. nos trouxe a primeira Copa do Mundo! E dando um show! Contam que Feola, em um dos jogos que a seleção fez na Europa para faturar, depois de ficar rouco chingando o Mané, jurou que ele ia ficar na reserva. Havia o Julinho , craque do Palmeiras, ajuizado, compenetrado, responsável, para ocupar a ponta direita. Prá que Garrincha? E ele era louco! Contam que ele driblou toda a defesa de um time italiano , incluindo o goleiro e, quando, com o gol vazio, todos achavam que ia estufar a rede, ele voltou driblando os gringos até que, cansado, entregou a bola. O Feola ficou possesso! Aconteceu mesmo? Bem, a imprensa, naquela época, pelas dificuldades imensas que enfrentava, costumava inventar. Naquele tempo, ficávamos sabendo sobre o que acontecia na Europa muito tempo depois, até três dias a uma semana. Neste período, criava-se algumas fantasias para agradar o leitor. Mas, há quem diz que viu e jura que é verdade. Não dava para duvidar. O que o Garrincha fazia com os marcadores no Maracanã era humilhante. Eu tive a sorte de vê-lo jogar algumas vezes. Certo jogo, o meu galo estava vencendo o Botafogo, ao final do primeiro tempo, por 4x0. Todos nós, do galo, começamos a gritar: Cadê o Garrrincha! Cadê o Garrincha! Meu Deus, por que não ficamos de bico fechado?! No segundo tempo ele voltou endiabrado. Fez gol, mastigou para outro fazer, desmoralizou a defesa do Atlético com fintas e dribles. E quanto mais violentos , mais desmoralizados ficavam. Garrincha também acreditava que futebol era para homem. Com H.
Hoje, que jogadores são estes? Dizem que sãomprofissionais. São. Ganham dinheiro, muito mais que o Garrincha, e , que lástima! No próximo , vou falar sobre os novos tempos do futebol.

O tal de mar.

Aquela mahã ia ser muito especial. Fizemos o desdejum farto e gostoso que os nossos amigos idosos capichabas nos ofereceram e tomamos assento nos ônibus. Íamos à práia. Idosos de quase cem anos, finalmente, iam conhecer "o tal de mar". Senti,pelas suas fisionomias, um misto de alegria e medo. Perguntaram-me não seria perigoso de afogar. Alertei-lhes que,se não fizessem nehuma "arte", tudo iria correr muito bem. Os nossos anfitriães cuidariam de me ajudar nesta arriscada tarefa. O que mais temia era a pressão sanguínea e o diabete. Estávamos preparados mas, para quem nunca tinha ido à praia era arriscado ,sendo pessoas tão idosas. Fomos para Vitória. As praias de Vila Velha são lindas mas , perigosas naqueles dias. Escolheram para nós uma bem tranquila. Quando decemos dos ônibus, os que conheciam já vestiam os seus maiôs e calções de banho. Era minoria. A maioria estava estática, entre maravilhada e receosa. Não os forcei. Esperei que decidissem por si mesmos o momento de se aproximar daquela maravilha da natureza. Lembrei-me da minha primeira vez. Eu já tinha 28 anos quando conheci o mar. A emoção foi inesquecível. Também tive medo e fui bem devagarinho, como a tomar uma sopa pelas beiradas para não queimar a boca. A diferença, é que eu era jovem eaté podia aguentar as queimaduras de segundo gráu, de soltar a pele, como suportei. E os idosos? Eu tinha que voltar com todos vivos e saudáveis. Fui chamado de louco e até irresponsável por tão arriscada aventura. Eu sempre corri os riscos para tentar alcançar a felicidade. Joguei, ganhei e perdi. Assim deve ser a vida. Comecei levando uns sustos quando vi alguns pulando na água. Pedi-lhes cuidado e eles me responderam que o mar é feito de água,como os rios e as lagoas. Alertei-0s sobre o perigo das ondas. Na verdade, o mar estava bem calmo . As ondas eram pequenas. Os amigos capichabas disseram-me que eu poderia ficar tranquilo. Eles estavam ali para ajudar-me. De repente, veio a minha mulher e perguntou pelo sr. Quirino, o mais idoso de todos. Cheguei a pensar que ele teria ficado emVila Velha, na Associação, com medo do mar. Ora, o sr. Quirino era o primeiro que chegava nos forrós semanais e o último que saia. O penúltimo, o último era eu. Nunca faltou a nenhuma viagem que fizemos pelas redondezas. Jamais me deu o menor trabalho. Seguia o regulamento como eu queria, como presidente, à risca. Então, onde estava o sr . Quirino? Olhei para o mar e senti um nó na garganta. Teria ele se afoitado? E se afogado? Deus me livre! Nem pensar! Orgnizei grupos de procura para cada direção. Logo, porém, a minha mulher veio rindo, aliviada, dizendo que encontrara o sr. Quirino esondido atrás da palmeira. Não estava com medo do mar. Não tinha calção!Logo , um calção apareceu. Levaram o sr. Qirino para o ônibus vasio e ele se vestiu. Veio para o mar sorrindo. Na boca, nem um dente mais. Mas, ele sorria assim mesmo. Quantos , trabalhadores como ele na roça, tinha um dente na boca? Jovens ainda já perdiam todos. Dentadura? Coisa de rico. O sr. Quirino foi cercado por nossos amigos que garantiram-me que iriam cuidar dele. Vi-o , pouco tempo depois, feliz como uma criança , brincando com as ondas que quebravam na areia. Vieram então outros idosos perguntar se eu conseguiria roupas de banho para todos. Eram muitos. A maioria. Perguntei-me como não havia pensado nisto? Virei-me então para os homens e lhes disse:
-Tirem a camisa, dobrem as calças. Fiquem sem calçado. E divirtam-se!
-Mas, nós só temos esta roupa de passear. E se ficar molhada?
-Com um solão deste, em minutos estarão secos de novo.
-Mas nóis num vai tirá os vestido, sô Paulo.
-E precisa? Entra com vestido e tudo!
Antes de terminar de falar , já tinha mulher dentro d'água. Todos nós voltamos a ser crianças. Nunca me diverti tanto! Ria com os risos de felicidade deles. O tempo foi passando e percebi que o sol de meio-dia vinha ameaçador. Fui até eles e expliquei que , dali para frente, todos deveriam ter cautela e procurar a sombra das árvores. Obedeceram como alunos meninos ao professor. Tínhamos um almoço programado para as duas horas da tarde. Eram onze. Sai com alguns idosos para um passeio pela orla. Quando chegamos à ponta dela, havia uma estátua de Yemanjá. Peguntaram-me quem era. Respondi-lhes que, para os seguidores da umbanda, era equivalente à Nossa Senhora. Disse-o e fui seguindo no passeio. Percebi que eles não estavam comigo. Quando olhei para trás, ví-os todos ajoelhados aos pés de Yemanjá. Corri para explicar mas, conclui que não adiantaria. Se é igual à Nossa Senhora, tinham que ajoelhar e rezar. Os transeuntes ficavam olhando , entre surpresos e curiosos, a quele grupo de velhos rezando a Ave-Maria para Yemanjá. Fiquei emocionado outra vez.Tão simples!
Voltamos para a Associação dos amigos e lá fomos recepcionados com um lauto almoço com muquecas de peixe simplesmente deliciosas. O forró já estava armado . Era só acabar de almoçar e cair no arrasta-pé. E assim foi. À tardezinha um lanche maravilhoso. Aliás , os três dias em Vila Velha estarão para sempre na memória dos espíritos encarnados e desencarnados daqueles idosos. Voltamos, depois de abraçarmos e comevê-los cantando músicas de adeus e agradecimento. Aqueles amigos capichabas estarão presentes no meu coração enquanto eu viver e até depois. Chegamos , exaustos e felizes, a Reduto e Manhuaçu.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O sonho e o mar.

Estávamos, finalmente a caminho do mar. Dois ônibus grandões, turísticos, com frigobar e TV, enfermeira a bordo com caixa de primeiros socorros que, afinal, graças a Deus, não foram utilizados. Nos dois uma saudável algazarra. As músicas dos velhos tempos, valsas melodiosas, boleros e até samba e rumba. Ouvia-se risos e piadas picantes a alimentá-los. Não sentimos o tempo passar. E estávamos tão distraidos, que nos assustamos com o ruido de foguetes que, vindos de onde viemos, nos pareceram tiros. Corremos para as janelas e... surpresa!Lá estavam os nossos amigos capichabas a nos recepcionarem. Foram nos esperar à entrada de Vitória. Os motoristas atenderam ao nosso apelo e pararam para que pudessemos abraçá-los. Foi uma choradeira de emoção de ambos os lados. Os anfitriões já mostravam que estavam organizados para nos oferecer o melhor que tivessem. Estavam ali ,também, para nos guiar até Vila Velha em segurança. Quando chegamos ao nosso destino ouvimos o som da sanfona , bumbo, violões, pandeiros, instrumentos de sopro, numa casa reservada para o forró. Fiquei preocupado, mas, achei melhor não transparecer: quem estiver a fim de dançar fica na folia e depois os nossos amigos vão encaminhá-los para o banho e o sono. Quem preferir esta última opção é só me acompanhar.
Confesso que estava exausto. Foram dias de preparação e organização da viagem. Tive que resolver algumas problemas de ordens diferentes. Enfim, ali estávamos. Fui com a turma que preferiu descançar. O presidente da Associação anfitriã assegurou-me que eu poderia descansar sossegado. Houve, como sempre há, alguns que só sabem reclamar. Agi com firmeza e resolvi os problemas. Fui dormir lado a lado com meus companheiros da ARPI e da APRI. Houve outra sugestão, mas preferi ficar com eles. Se houvessse algum incidente eu estaria ali, perto, para resolver. No dia seguinte, fomos todos para o desdejum. Farto e rico. Todos comeram o quanto quiseram. Opções: ficar dançando forró na sede, sair para conhecer Vitória e o mar. Que dúvida atróz ! Conhecer um tal de mar que a maioria nunca tinha visto, ou ficar e aproveitar o rítmo dos músicos que se revesavam? Uns poucos preferiram ficar. Nada forcei. A maioria preferiu ver o tal de mar. Já tinham visto na televisão e não achavam grande coisa. Bem, tudo ia ser de graça e, de graça... Os ônibus deram a partida. Até os motoristas, acostumados com turistas, estavam curiosos. Como reageriam? Eu , admito, não tinha a exata idéia. Fomos primeiro na Penha. Lá no alto havia uma igrejinha. A maioria , muito católica, era devota da mãe de Jesus. Havia que pagar ingressos. Os que podiam , pagaram . Os que não podiam íamos pagar por eles. Já estava pago. Um vereador, querido na região, conseguiu que o prefeito de Vila Velha , através da Prefeitura, se responsabilisasse pelos gastos. Agradeço muito ao prefeito da época. Se esta oferta tão simpática não acontecesse, os velhos pobres veriam a igrejinha do mesmo jeito. Eu estava preparado. Quando chegaram, foram direto para a capela. Atrás desta havia um mirante majestoso. Não chamei-os. Deixei-os, o tempo que quiseram, entregues a sua fé. Foram chegando devagar ao mirante. Chegavam e se extasiavam com a beleza da vista. Lá estava o tal de mar.
-Meus Deus, que coisa linda! Eu pensei que ia morrer sem nunca ter visto esta lindeza!
Foi contagiante. Eu,minha mulher, os amigos capichabas choramos e muito. Nunca havia visto tamanho deslumbramento. Disse-lhes que, no dia seguinte iriam conhecer o mar bem de perto. Eu tinha que dosar as emoções para não termos surpresas desagradáveis. Havia idoso com quase cem anos! Outros com quase isto.
Fomos conhecer um Shopping. Falei-lhes da beleza que era. Eles não conseguiam pronunciar shopping. Mas estavam ansiosos por conhecer. Chegando lá , êxtase. Havia produto que nunca haviam visto mas, o que mais gostaram foi do sorvete. Tirando a escada rolante, claro. Subiram e desceram por ela dezenas de vezes. O pessoal do shopping assistia entre surpreso e comovido aqueles idosos que pareciam crianças. Brincaram, brincaram...
Fomos ao aeroporto.Já tinham visto na TV. Alguns acharam que era perda de tempo. Disse-lhes que não demoraríamos. Mas, foi só eles ficarem da sacada vendo avião descendo e subindo que não queriam mais ir embora.
-Pessoal! Há outras novidades. Vocês vão gostar!
E eles não arredavam o pé. Queriam ver , de novo, para acreditarem que um "bichão pesadão como aquele" saia voando do chão e pousava! O melhor ficaria para o dia seguinte. O tal de mar.
Bem cedinho, cinco ou seis da manhã, já tinha idoso vestindo-se para ver o mar como se fossem para um baile.Com jeito, para não envergonhá-los, disse-lhes que deveriam fazer o contrário, ou seja, vestir bermudas ou calções. As mulheres resistiram à idèia.
-Imagina, seu Paulo, se nois vai ficá quasi pelada!!!
Não insisti. Cada um vai como quer. Nós já havíamos conversado sobre isto. Não acataram.No próximo blog eu vou contar a mais bela experiência que eu já vivi na minha longa vida.Leiam.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A viagem

Vivi no Leste de Minas por oito anos. Não faz muito que mudei-me de lá. Vivi experiências muito interessantes que eu contarei neste blog. Para mim, a melhor entre todas foi a que passo a narrar.
Quando cheguei a Reduto-MG, não tinha intenção de permanecer por mais que um ano. Estava passando por uma desta fases difíceis e , a minha mulher, nascida lá, fez as malas e disse: vamos já para a minha terra!
O que fiz? Obedeci. Ela estava com a razão. Mas avisei que era só para "passar uma chuva". Quando cheguei, acostumado com a capital, o tédio quase me liquidou. A hospitalidade tão mineira daquele povo foi mudando o meun pensamento. Reduto fica a seis quilômetros de Manhuaçu, uma cidade mais cosmopolita. Então, morava em Reduto e passava um bom tempo em Manhuaçu. Fiz, ali também, muitos amigos. Certo dia, alguém me convidou para conhecer a APRI, Associação de Promoção aos Idosos . Reuniam-se sob um galpão, local de festas campestres da cidade. Era bem escuro. Perguntei a um sócio se o escurinho era proposital. Bastava iluminar um pouco mais. Ele respondeu-me que foi o máximo que, até então, conseguiram do poder municipal. O importante é que a sanfona tocava, junto com violões e pandeiros, e o forró pé-de-serra fazia o "coroas" se mexerem com entusiasmo. Aderi ao grupo e aproveitei.
Voltando à Reduto,eu reparei que a maioria da população já tinha cabelos brancos. Os jovens migram para as grandes cidades a procura de trabalho. Ficam os velhos sobrevivendo da magra aposentadoria.Não é raro que, com eles e às suas custas, noras e netos. Decidi que eu tinha que fazer algo para mudar esta melancólica situação de pobreza, isolamento e preconceito. O pensamento quase que geral, era que lugar de velho era na igreja, se preparando para o inevitável. Realmente, a morte não escolhe só pela idade e todos sabemos disto. Resolvi mostrar para todo mundo que aqueles seres humanos não eram mortos-vivos. Convidei algumas pessoas e criamos a ARPI, Associação Redutense de Promoção ao Idoso. O nome e a sigla ficaram muito parecidos com os companheiros de Manhuaçu. A d. Dilma Knupp, presidente da APRI, achou ótima a idéia. Iríamos trabalhar juntos pelos idosos. Fizemos a inauguração em estilo memorável, com autoridades e banda de música da PM. A FAFIMA, faculdade de diversos cursos, de Reduto, nos cedeu as dependências para a nossa reunião festiva semanal. Comecei com uns poucos. A Associação era só de idosos. Ninguém quer ser rotulado de idoso. Muito menos de velho. Quiseram misturar com jovens. Eu propus aos jovens a criação de uma só deles. Quase aconteceu. Houveum problema que não sei qual. Que pena!
Continuamos com a nossa ARPI, muito ligado na APRI. Fizemosmuitas reuniões dançantes com direito a merenda e refresco gelado, coom açucar, ou com adoçante, e com muito afeto.Chegamos a 150 idosos com carteirinha e tudo. Num lugar de 2.000 habitantes na cidade...
Certo dia, alguém me falou que temia morrer sem nunca ter visto o mar.
-Eu vou levar vocês lá.
Não acreditaram. Só um louco tentaria levar gente idosa para passar uns dias na praia.
-E quem lhes falou esta calúnia de que não sou?
Fui a Manhuaçu e disse:
- Sem gastar nada do bolso dos velhos, nós vamos à praia! Topa , d. Nilda?
Sem acreditar, ela respondeu:
-Topo! Só que eu não estou com muita disposição.
- Deixa comigo.
Comecei , então, a articular a viagem. Levantei todos os gastos. Não ia sair barato. Procurei por "padrinhos" dos associados. Tinha que contratar uma empresa turística. Queria, vejam só, conforto do melhor. Eu, um pobre aposentado do INSS. Fui padrinho de uns dez. Arranjei para lotar dois ônibus , tão confortáveis, que tinham frigobar e TV, banheiro super limpo. Avisei ao dono da empresa que, admito, aceitou as condições de pagamento porque se entusiasmou com a idéia, que, se as nossas exigências não fossem cumpridas a risco o risco era todo dele. Ia voltar velho morto . Talvez até eu. A culpa, se houvesse vacilo, era dele. Topou assim mesmo! No dia marcado, fomos nós para Vitória retribuir a gentil visita dos idosos de Vila Velha. O que aconteceu lá foi simplesmente maravilhoso. Emoções! Muitas emoções! Em outro blog eu vou lhes contar. Aguardem.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Estradas brasileiras

Fui viajante durante muitos anos. Quando era um menor de idade, sai pelo interior vendendo coisas. Vendi livros didáticos. Lembro-me de uma coleção de três livros muito interessantes porque vinham com o método de ensino, plano escolar e de aulas. As professoras não teriam trabalho pra preparar as aulas. Elas já vinham prontinhas. Naquele tempo, década de cinquenta, o ensino não havia ainda sofrido as modificações que hoje sucitam polêmicas quanto a questão da melhora ou piora do ensino. Como a miséria ainda era bem maior que a de hoje, os professores passavam os "pontos" no quadro negro e a infeliz criançada tinha que ficar esperta e copiar antes que a aula chegasse ao fim. Livros escolares eram um luxo reservado para os colégios dos mais favorecidos. Visitei, na esperança de vender as coleções, muitas escolas. A forma que eu servia chamava-se "Difusão Panamericana de Livros". Saia para a viagem sem dinheiro sequer para me alimentar. Para dormir então... Com o dinheiro do pagamento do primeiro livro-os outros dois viriam em dois meses, um para cada um- é que eu comia e me hospedava num hotel barato. Mas, vendi muito. Sempre tive um grande talento para vendas. As moças que podiam pagar , compravam ansiosas. Mesmo que os outros dois não viessem, aquele primeiro ajudava muito às professoras iniciantes. Mas , vinham. Não havia ainda esta malandragem de hoje. As mais pobres eu via chorando por não poderem adquiri-los. Quando vendia muito, eu sacrificava parte da minha comissão presenteando-as com o livro inicial. Ficavam tão felizes! São, até hoje, grandes heroinas estas professoras primárias. Muitas, de seu parco salário, tiravam para alimentar alunos que, de fome, desmaiavam na classe. Às vezes, tinha que encaminhá-los com urgência aos médicos ou curandeiros do lugar para salvar a vida daqueles pequenos infelizes atacados pela verminose que assola e assolava ainda mais o nosso interior, especialmente a zona rural. Tênias, Áscaris, oxiurus, parasitas como carrapatos ou "bichos -do-pé"atormentavam tanto os alunos que a evasão escolar era enorme. Muitas vezes , porque aqueles garotos eram arrimos de família e labutavam na roça para alimentarem pais doentes e irmãos menores. E as escolas? Eu vi crianças estudando ao relento, sob telhados de sapé, paredes de páu-a-pique onde os barbeiros, causadores do mal de Chagas proliferam. Via-os sentados no chão , pálidos e barrigudos, felizes por aprenderem o beabá. Os políticos da região sabiam que eles não iriam longe. E isto era bom. Não podiam ficar sem aquela mão de obra em suas fazendas, barata e servil. Os donos do lugar, se não eram políticos por não gostarem, escolhiam um que lhes serviria fielmente.Esta foi uma das mais tocantes experiências de um vendedor de quarenta anos de profissão. Tenho muitas histórias para contar. Umas até divertidas. Aqueles que estão acompanhando os meus blogs vão conhecer a história deste brasileiro de setenta anos de idade.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Espiritismo Kardecista

Em meados do século 19, Allan Kardec, pseudônimo de um professor francês de reconhecida competência e popular nos meios acadêmicos, decidiu que deveria fazer uma codificação da doutrina espírita, a partir de suas próprias experiências e informações mediúnicas. Escreveu então , entre outros, O Livro dos Espíritos, O Que È O Espiritismo, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo. Com ele sempre esteve um patrício que tinha a mesma fé e uma grande estima e admiração por seu mestre: Odílio Denis. A base da crença é o cristianismo real. Sem nenhuma forma de sincretismo com o judaismo. Acredita , o verdadeiro espírita, que Cristo foi sacrificado, barbaramente, porque contrariava a religião predominante e obrigatória e aos interesses dos dominantes da Judéia , que , em nome da "Pax Romana", dominava os países de sua órbita a ferro e fogo. A princípio, Kardec foi julgado um insano por crentes e ateus. Ele dizia que o Espiritísmo é, acima de tudo, uma ciência. Como tal, as teses , por absurdas que pareçam ser, devem ser acolhidas e discutidas. Se os seus argumentos forem convincentes, adotadas. Com isto ele estabeleceu a liberdade de pensamento dentro de uma doutrina religiosa , o que era impensável, pois não atingiria a compreensão dos menos inteligentes. Kardec não abriu mão disto. Quem quisesse ser espírita só teria dois aparentes dogmas de fé: reencarnação e mediunidade. Mas, até estes poderiam ser derrubados caso se comprovasse , cientificamente, o erro. Ao contrário, o que vemos hoje , em pleno século 21, são cientistas interessados em investigar a possibilidade da existência do espírito nas pessoas, e, se existem e se comunicam.Porque parariam de se comunicar com a desencarnação? Fenômenos mediúnicos deixam atônitos cientistas detodas as partes do mundo. Os exemplos se sucedem e não encontram explicação na física. Seria a metafísica?E o que é metafísica? A definição todos conhecem. Eu já fui um ateu convicto por muitos anos. Procurava explicar as minhas mediunidades como fenômenos da parapsicologia. O próprio Freud comprovou a capacidade da mente humana em realizar proezas. Porém, não encontrou explicações para as mais intrigantes. Young, em suas teorias acrescentou a possibilidade do "consciente coletivo", onde , como dizia Goobels, uma mentira repetida muitas vezes vira verdade. Seria a inteligência humana uma mentira? Até onde irão os seus limites? Por que só os homens, que Darwin comprovou ,em "A Evolução das Espécies", evoluindo físicamente como tudo é o único que evolui mentalmente? Kardec também fala da evolução espiritual. Como pode, para os crentes do espírito, acreditar que o mesmo tipo de espírito de um troglodita seja o mesmo do nosso? Há uma energia dentro de nós que nos domina. Isto os cientistas comprovam. Chamamos de espíritos. Não há quem não tenha tido uma experiência mediúnica, mesmo que, para esta, tenha interpretado de formas diferentes. Eu tive várias, mesmo quando era ateu. Aquilo me fazia mergulhar nos livros da parapsicologia. Não encontrei respostas satisfatórias. Um poeta disse: "um coração tem razões que a própria razão desconhece". Outro: "há mais sob o céu e a terra do que faz supor nossa vã filosofia". Mas, eu não creio em muita coisa do kardeismo pregado por ai. Eu aceito Jesus, como o espírito divino de Deus. Ele é "o verbo que se fez carne e habitou entre nós". Acredito que existiu o Jesus que pregou a dua doutrina religiosa e a sua doutrina política. Foi, na sua época, muito mal compreendido, até por seus apóstolos. Depois que desencarnou, as pessoas passaram a estudar as suas palavras e descobriram porque ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade, e a vida".Ou: "Crêde-me eu e o pai somos um!" Este foi o Jesus místico. O Jesus filosófico deixou-nos o ensinamento da justiça social, da igualdade e fraternidade. Foi um revolucionário. Veio para mudar " Eu vim para cumprir a Lei": a sua lei. Para este espírita kardecista só existem: Jesus acima detudo e Allan Kardec. O resto é resto, inclusive eu..

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Doutrinas.

Existem as políticas e as religiosas. Nem sempre se coadunam. Há mesmo sérias divergências. Eu sou cristão. Respeito muito todas as outras crenças. Até a quem não tem crença alguma. O mais importante é o comportamento social. Se você respeita, mesmo que não ame, ao seu próximo, com certeza, tem um ótimo caráter. Não importa a cor da sua pele, o seu nível escolar, a sua preferência sexual, desde que mereça, tem o meu respeito. Não aprovo os desvios de personalidade, a não ser que sejam doentios. Nestes casos, o recomendável é o tratamento adequado e recuperação social. Não acredito que todos os políticos são mal intencionados. É verdade que, diáriamente, sofremos grande decepções. Porém, houveram políticos que sacrificaram tudo pela causa que defendiam em favor dos injustiçados. Não ouvi falar. Conheci, vários, que sofreram na ditadura só porque queriam uma sociedade mais justa. Acho que temos que fazer uma reforma política . Não importa qual seja o caminho ideológico. Todos são bons se são sérios. O problema está na demagogia. Prega-se uma coisa e, uma vez no poder, fazem outra. Na realidade, talvez só os países escandinavos podem se orgulhar de colocar a ideologia em prática. .Nós já experimentamos de todos os políticos mas desconhecemos os sistemas. Afinal, qual é o nosso sistema? Somos capitalistas governado por socialistas? Nem uma coisa nem outra? Há quem disse que o nosso é um capitalismo selvagem.O que é isto exatamente? Os selvagens, índios, os primitivos, usam em suas tribos o sitema muito parecido como comunista. "A cada um de acordo com a sua necessidade, de cada um , de acordo com a sua possibilidade". O que é de um é de todos . E vice-versa. Afinal, somos ou não o Eldorado que Cândido , de Voltaire, procurou em sua época? O que falta para sermos um paraíso? E se não falta nada, porque não somos?

domingo, 9 de agosto de 2009

O Parlamentarismo

Usado, com sucesso, por muitas nações, este sistema cria dois poderes em um só. Por ser unicameral, dispensa a necessidade de uma Câmara Alta, que, a meu ver, atrasa o país. Não afirmo isto somente pelos escândalos que, mais uma vez atinge a atividade parlamentar, em especial, o Senado Federal. Nos sistemas unicamerais , o parlamentarismo será necessariamente distrital.O deputado distrital cuida da sua área política e somente dá aos eleitores do seu distrito as devidas satisfações. O eleitor fica engrandecido e mais íntimo do poder. Poderá cobrar resultados e, se estes não vierem conforme o prometido, exigirá a troca do parlamentar pelo seu substituto eventual. Teremos o primeiro-ministro que, embora aparentemente seja eleito pelo parlamento, este terá que apresentar à sociedade um nome respeitável. Se houver engano e o primeiro-ministro revelar incompetência ou desonestidade, será pelos deputados destituido e substuido por alguém que, nas eleições seguintes possa manter o partido dominante à crista do poder. Tancredo Neves nunca escondeu a sua preferência pelo sistema parlamentar.Inteligentíssimo, sabia que o país não seria tão truncado se houvesse um governante com maioria expressiva. Por qualquer motivo político, a oposição para o país. No parlamentarismo o povo, em abaixo assinado, manifestaria o desejo de antecipar eleições para renovar o congresso. A Câmara Unicameral teria que atender ao povo ou sofreria intervenção pelo Poder Judiciário. Acabaria o corporativismo porque, salvar a cabeça de um colega e entregar a sua nenhum parlamentar faz, onde este sistema existe. Há monarquias , governos civis, capitalistas ou comunistas ,parlamentaristas. A Inglaterra sempre foi. Desde os tempos em foi dona do mundo. Nos EUA, o presidencialismo é muito diferente do nosso. Quem elege o presidente é um colégio eleitoral formado por parlamentares.É bicameral mais por tradição. Lá , Câmara Alta ou Baixa não se chocam quando o interesse do país está em jogo. Já aqui, sempre se chocaram porque o interesse individual está bem acima do coletivo.Ao contrário do que muitos pensam, o chefe do executivo é o povo que elege no sistema parlamentarista como já deixei bem claro. O partido só vencerá e permanecerá no poder se o primeiro-ministro agradar aos eleitores. E se mudar o chefe do governo o partido continua no poder e nada para.Se escolher um bom substituto, continuará governando como acontece em alguns países onde há partidos há mais de vinte anos no poder pela vontado do povo expressa no voto.Parlamentarismo já! Contra golpes militares e oligopólios políticos: parlamentarismo já!