terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tempos de tristezas e alegrias

Quando o selecionado brasileiro de futebol foi, finalmente, campeão do mundo em 1958, foi mais uma grande alegria que se somaria a muitas outras. Com o sorridente e popular presidente JK inaugurando obras e iniciando outras mais expetaculares ainda, o repertório da música popular enriquecido com a Bossa Nova, com a liberdade contageando a nação que passava a crer que não era uma "república de bananas", tal como os gringos nos chamavam, o Brasil parecia embaladado para o progresso inevitável. Era o Novo Brasil que surgia. JK , apesar da rebeldia de alguns militares que o Mal .Lott, exemplar Ministro da Guerra, dominou e puniu exemplarmente -depois o próprio Jk resolveu anistiá-los- pelas revoltas de Aeragarças e Jacareacanga, governou sem maiores preocupações. Agitou o Brasil. Acordou o gigante que dormia "em berço explêndido". Avançou 50 anos em cinco. Prometeu que, em seu retorno após a eleição de 1965, teríamos 50 anos de fartura. Seria a revolução pacífica do campo. Quem conhecia JK, o povo, sabia que ele não era de só prometer. Cumpria cada promessa religiosamente. Marcava dia e hora para a inauguração. Num Brasil quase primitivo, com uma infraextrutura muito pobre, o que conseguiu JK foi uma façanha memorável. E ainda teve sorte de ter a taça Jules Rimet, do futebol mundial, tão sonhada.No atletismo, Ademar Ferreira da Silva estipulava um novo récorde para o salto triplo que demoraria a ser superado, no tênis, Maria Ester Bueno era imbatível e detentora de títulos importantíssimos, no box , Eder Jofre levava um boxeur brasileiro, pela primeira vez ,ao título mundial de penas, depois galo.O centro-oeste brasileiro começava , afinal a ser ocupado por nós com a inauguração de Brasília. A música popular virou sucesso mundial com a Bossa-Nova, cantada por astros internacionais. Onde se olhava haviam homens trabalhando em rodovias, hidro-elétricas, fábricas de automóveis. Então apareceu um professor de português que parecia popular com os seus cabelos despenteados , gravata frouxa, caspas sobre o paletó. Conquistou São Paulo, capital e interior e depois o Brasil. A saida de JK por estar finalizando o seu mandato deixou um vácuo na política brasileira. Quem seria o seu substituto? Quem parecido com ele? Ninguém. Jânio teve então a atenção do povo. Fora eleito em São Paulo por partidos pequenos, sem expressão.Mostrou que era um bom administrador. Era honesto. Fazia, porém um discurso anticomunista. A UDN, único partido organizado em condições de enfrentar o PSD-PTB, ambos criados por Getúlio para abrigar os trabalhadores (PTB) e burguesia (PSD) sob a égide do getulismo e do trabalhismo. Os comunistas , colocados na ilegalidade pelo Gal. Dutra, presidente de 1946 a 1950- sob pressão da Igreja da época e dos EUA-foram para o PTB. JANGO, vice-presidente de JK, era o presidente do PTB. A UDN aproveitou para ligá-lo aos comunistas. Nunca foi. Estava mais para Peron do que para Lenin. Jânio aceitou o apoio da UDN pela sua extrutura. Ganhou as eleições para presidente e foi empossado por JK, junto com seu vice, Jango. Naquele tempo havia eleições para presidente e vice separados. E vejam só, ganharam dois candidatos com discursos opostos. Podia dar certo? Aparentemente não, mas Jânio tomou posse com um ministério quase todo indicado pela UDN. E começou surpreendente. Já na campnha tinha ido à Cuba e posou ao lado de Fidel e Guevara. Convidou e Guevara veio depressa atender ao convite de visitar o Brasil como chanceler de Cuba. Jânio condecorou-o como a um herói. Deu-lhe a Gran Cruz do Cruzeiro do Sul. E ainda colocou a guarda palaciana e os seus ministros a cumprimentá-lo. Animei-me. Sabia o que ele pretendia. o desalinhamento total do Brasil da guerra fria. Queria comerciar com quem quisesse ou pudesse.Quer comprar? Vendemos. Não importa a quem. Fiquei entusiasmado. Feliz pela escolha de Jânio. Não havia reeleição naquele tempo. Houvesse , JK seria reeleito com facilidade. O povo aguardaria 1965. Mesmpo porque, o Jânio , o homem da vassoura e da política externa independente e da interna reformista mostrou às elites econômicas que o apoiaram que não era o que pensavam. Foi um Deus nos acuda. Um cheiro forte de golpe pairava no ar. Jânio queria mais poderes. Não tinha a maioria no legislativo. Acreditou que suas atitudes mudariam tudo atraindo a esquerda e a direita progressista. O que o Chaves fez agora, na Venezuela, era , mais ou menos , o que ele queria. Tentou o golpe de De Gaule. Este, diante de uma França no caos polpitico, renunciou. Não havia francês confiável para o seu lugar. Foram atrás dele e ele voltou sob rígidas condições. Direita e esquerda francesas cederam e ele voltou forte. Jânio jogou. Perdeu. Renunciou antes de perder. Ou perdeu porque renunciou. A UDN conspirava através de Lacerda e militares para impedir que fizesse mais "loucuras". Ele não queria cabresto. Formou-se o impasse. Tentou o golpe. Falhou. O Brasil, em três anos após iria sofrer as consequências de tudo isto. Os militares que, através do voto só conseguiram vencer com Dutra-porque Getúlio o apoiou- viram que só pela força retornariam ao comando do país. Tivemos quatro anos de conspiração e em 1964 eles venceram. E ficaram 22 anos. Foi difícil para o Brasil.

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