quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A viagem

Vivi no Leste de Minas por oito anos. Não faz muito que mudei-me de lá. Vivi experiências muito interessantes que eu contarei neste blog. Para mim, a melhor entre todas foi a que passo a narrar.
Quando cheguei a Reduto-MG, não tinha intenção de permanecer por mais que um ano. Estava passando por uma desta fases difíceis e , a minha mulher, nascida lá, fez as malas e disse: vamos já para a minha terra!
O que fiz? Obedeci. Ela estava com a razão. Mas avisei que era só para "passar uma chuva". Quando cheguei, acostumado com a capital, o tédio quase me liquidou. A hospitalidade tão mineira daquele povo foi mudando o meun pensamento. Reduto fica a seis quilômetros de Manhuaçu, uma cidade mais cosmopolita. Então, morava em Reduto e passava um bom tempo em Manhuaçu. Fiz, ali também, muitos amigos. Certo dia, alguém me convidou para conhecer a APRI, Associação de Promoção aos Idosos . Reuniam-se sob um galpão, local de festas campestres da cidade. Era bem escuro. Perguntei a um sócio se o escurinho era proposital. Bastava iluminar um pouco mais. Ele respondeu-me que foi o máximo que, até então, conseguiram do poder municipal. O importante é que a sanfona tocava, junto com violões e pandeiros, e o forró pé-de-serra fazia o "coroas" se mexerem com entusiasmo. Aderi ao grupo e aproveitei.
Voltando à Reduto,eu reparei que a maioria da população já tinha cabelos brancos. Os jovens migram para as grandes cidades a procura de trabalho. Ficam os velhos sobrevivendo da magra aposentadoria.Não é raro que, com eles e às suas custas, noras e netos. Decidi que eu tinha que fazer algo para mudar esta melancólica situação de pobreza, isolamento e preconceito. O pensamento quase que geral, era que lugar de velho era na igreja, se preparando para o inevitável. Realmente, a morte não escolhe só pela idade e todos sabemos disto. Resolvi mostrar para todo mundo que aqueles seres humanos não eram mortos-vivos. Convidei algumas pessoas e criamos a ARPI, Associação Redutense de Promoção ao Idoso. O nome e a sigla ficaram muito parecidos com os companheiros de Manhuaçu. A d. Dilma Knupp, presidente da APRI, achou ótima a idéia. Iríamos trabalhar juntos pelos idosos. Fizemos a inauguração em estilo memorável, com autoridades e banda de música da PM. A FAFIMA, faculdade de diversos cursos, de Reduto, nos cedeu as dependências para a nossa reunião festiva semanal. Comecei com uns poucos. A Associação era só de idosos. Ninguém quer ser rotulado de idoso. Muito menos de velho. Quiseram misturar com jovens. Eu propus aos jovens a criação de uma só deles. Quase aconteceu. Houveum problema que não sei qual. Que pena!
Continuamos com a nossa ARPI, muito ligado na APRI. Fizemosmuitas reuniões dançantes com direito a merenda e refresco gelado, coom açucar, ou com adoçante, e com muito afeto.Chegamos a 150 idosos com carteirinha e tudo. Num lugar de 2.000 habitantes na cidade...
Certo dia, alguém me falou que temia morrer sem nunca ter visto o mar.
-Eu vou levar vocês lá.
Não acreditaram. Só um louco tentaria levar gente idosa para passar uns dias na praia.
-E quem lhes falou esta calúnia de que não sou?
Fui a Manhuaçu e disse:
- Sem gastar nada do bolso dos velhos, nós vamos à praia! Topa , d. Nilda?
Sem acreditar, ela respondeu:
-Topo! Só que eu não estou com muita disposição.
- Deixa comigo.
Comecei , então, a articular a viagem. Levantei todos os gastos. Não ia sair barato. Procurei por "padrinhos" dos associados. Tinha que contratar uma empresa turística. Queria, vejam só, conforto do melhor. Eu, um pobre aposentado do INSS. Fui padrinho de uns dez. Arranjei para lotar dois ônibus , tão confortáveis, que tinham frigobar e TV, banheiro super limpo. Avisei ao dono da empresa que, admito, aceitou as condições de pagamento porque se entusiasmou com a idéia, que, se as nossas exigências não fossem cumpridas a risco o risco era todo dele. Ia voltar velho morto . Talvez até eu. A culpa, se houvesse vacilo, era dele. Topou assim mesmo! No dia marcado, fomos nós para Vitória retribuir a gentil visita dos idosos de Vila Velha. O que aconteceu lá foi simplesmente maravilhoso. Emoções! Muitas emoções! Em outro blog eu vou lhes contar. Aguardem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário