domingo, 14 de março de 2010

Dima Roussef, futura presidente.

Quando veio o golpe militar em 1964, as instituições democráticas brasileiras, ainda tão recentes, foram violentamente destruidas. Os sonhos dos brasileiros, especialmente os mais jovens,pareciam impossíveis. Isto causou um sentimento de revolta muito grande. Alguns , mais exaltados, queriam a resistência armada. Talvez acreditassem que a China ou a URSS apoiaria os seus esforços com logístitca. Cuba incentivou. Mesmo que desse errado , que tinham a perder? Qualquer demonstração de insatisfação contra os EUA, país considerado imperialista, seria benvindo, mesmo que fracassado. Havia outro grupo, do qual eu fazia parte, que acreditava na resistência pacífica, nos moldes de Ghandi. Nosso grupo não via apoio por parte da população . A maioria muito ignorante, especialmente os do campo. Mas, o sucesso de Mao na China animava os guerrilheiros urbanos e rurais. A resistência no Vietnam também era motivo de estímulo para os belicistas. Nós achávamos que uma resistência armada fortaleceria a ditadura dando-lhes o motivo para endurecer e continuar no poder mais forte ainda. Estávamos em Guerra Fria. A um passo da última guerra mundial. EUA e URSS poderiam destruir o mundo 40 vezes. Não se arricaria , a URSS, de intervir diretamente numa revolução socialista no Brasil. A China avançava, mas tinha dois inimigos poderosos: os americanos e os soviéticos. Ambos estavam com muito medo do progresso militar da China.Afinal, na época com 1 bilhão de habitantes (hoje mais de 1, 5 bilhões), todos achavam que a guerra seria a única saida da China para a sobrevivência. Pode ser que pensassem assim alguns milhões de chineses, outros milhões não queriam a guerra mundial. Os EUA, depois do episódio dos foguetes atômicos em Cuba que, se disparados destruiriam , se não todo, uma grande parte do seu país, tratou de se aproximar de Kruschev, primeiro-ministro soviético, e firmou acordos de relacionamento até então negados. Kennedy, presidente americano, foi o autor desta façanha e pagou com a vida por isto. A direita americana queria a guerra para extirpar, de uma vez por todas, a URSS. O mundo, após a morte de Kennedy, ficou à beira do abismo . Foi quando aconteceu o golpe no Brasil. Os EUA não queriam perder a América Latina, pelo seu valor extratérgico militar e por suas reservas minerais. Especialmente o Brasil. Disse um presidente americano:" para onde pender o Brasil, penderá toda a América Latina." Por isto, achávamos , nós resistentes pacifistas, que teríamos que enfrentar a direita brasileira e o potencial bélico americano, sem a mínima ajuda dos nossos "aliados". Diziamos: "vamos para a rua. Levemos o povo em protesto. Sem balbúrdia. Sem bagunça. Com ordem e disciplina tal como fez Ghandi. Sem o povo nenhum governo governa. Tudo para. Todo poder emana do povo e somente por ele será exercido." Alguns acataram a idéia. Outros partiram para o confronto armado quixotesco. Entre estes companheiros, Dilma Roussef. Era uma brilhante aluna do curso superior aos 19 anos. Com esta idade queremos ser mártires. Se nos chamam para morrer pela pátria, vamos. Eu já tinha mais de 26 anos quando a guerrilha começou a atuar. Se eu tivesse 19, como a Dilma, talvez teria aderido à luta armada. Mais pelo seu romantismo. Che Guevara era o herói de todos nós. Ele, nos seus livros, conclamava a revolução que Trotsky pregou no seu internacionalismo revolucionário. Acreditava-se que, se o Brasil se insurgisse, também se insurgeriam os demais povos da América Latina. Talvez fosse verdade. Mas, não tínhamos condições para isto. Dilma pertenceu a um grupo que era liderado pelo ex-deputado comunista Carlos Marighela. Assaltaram alguns bancos, houve tiroteio com a morte de pessoas inocentes, além de policiais e guerrilheiros. Isto fez radicalizar a ditadura. E consolidou-a também. Dilma foi presa. Passou quatro anos na prisão. Quem caia nas mãos dos agentes do DOPS, polícia política, vivia , se não morria, horríveis momentos. A tortura mais cruel era praticada com inocentes. Estes sofriam mais porque nada tinham para dizer. O livro "Tortura Nunca Mais", que tem o prefácio de D.Paulo Evaristo Arns, conta narrativas de torturados assombrosas. Fala de crianças que foram maltratadas e seviciadas diante de pais para contarem coisas que não sabiam. Don Mitrione, um agente da CIA, veio trazer ao Brasil, e ensinar como usá-la, uma máquina de choques para serem aplicados nos órgãos genitais de homens e mulheres molhados. Este canalha chegou a ter uma rua com o seu nome em Belo Horizonte, homenagem do governo municipal nomeado pela ditadura. Contam que o sofrimento provocado por esta máquina é indescritível. Os nazistas não a usaram. É criação de Don Mitrione.
Agora Dima se desponta como a mais eficiente ministra do governo Lula. Este governo que tem 80% de aprovação popular, eleito pelo "Le Monde" como "O Homem do Ano", pelos delegados de Davos, "Cidadão do Mundo" e elogiado publicamente pelo presidente Obama , dos EUA. Dilma é a candidata de Lula. Ainda escreverei o que ela já fez, no governo, pelo Brasil. Fez muito. Será preciso um capítulo à parte. Estou idoso. Tenho 71 incompletos. Não sei se verei o fim do governo dela. Estou confiante que verei o início. Mas, pelo amor que eu tenho ao Brasil, espero que as futuras gerações usufruam de um pais forte, progressista, sem corrupção.

2 comentários:

  1. Meu caro Vô,

    Muito bom seu texto,com certeza nós vivemos em um pais muito mais maduro e consciente de seus direitos ,diante de alguns fatos citados coube a mim observar:
    Nossa "guerreira quixotesca" é com certeza uma brasileira que deu seu sangue pelo seus ideais mas olhando no contexto atual ,percebe-se rapidamente sua falta de carisma e articulação oral ,requisitos fundamentais para qualquer aspirante a político que almeja o poder .Ela usa da imagem e carisma do nosso presidente Lula para angariar votos para adquirir seu famigerado cargo.
    Não me leve a mal mas financiar movimentos de resistência a ditadura via assaltos e homicídios é no mínimo desumano,conforme o Sr. disse ,existia outras formas de resistência que não a armada...
    Acredito que para que haja de fato uma democracia é necessário que governantes de esquerda e de direita alternem o poder,caso contrario vide nossos vizinhos : Venezuela ,Bolívia e etc....
    Luiz Inácio é um retrato de quem é a maioria no Brasil,consegue persuadir as classes mais baixas e confortar as mais altas dando-lhes estabilidade econômica ,ainda que por trás de tudo há um pais com 15 anos de plano real ,sem o monstro da inflação(que nada mais é que mais um imposto pesado recaindo aos menos favorecidos),com uma população muito mais consiste e com acesso a informação de maneira nunca vista antes...
    Entendo sua preferência a valores marxistas mas idolatrar um presidente seja qual for sua origem é um passo para que seu ego se infle ao ponto de achar que deve governar perpetuamente ,por acreditar ser uma vontade divina,vide os ditadores e imperadores de nossa historia.



    Rodrigo Vale

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  2. Rodrigo, meu brilhante neto, acho que você está certo quando prefere a alternância do poder. Mas, não temos grandes alternativas. Serra? Marina? Helena? Talvez o Ciro seja uma boa, embora ainda estamos recalcados com a decepção do ex-governador alagoano Collor. O povo levou-o à presidência (eu não) e sofreu muito. Tivemos que chamar o povo para voltar às ruas para derrubá-lo. Talvez o estilo,talvez por ter sido governador no Ceará, estado do nordeste, mas Ciro lembra muito o Collor candidato. Mas, se não der Dilma num segundo turno e for o Ciro, com certeza voto nele. Mas, confio na Dilma. O tão bem sucedido governo Lula deve muito à Dilma Roussef. Ela é a cabeça do governo atual. Lula reza na cartilha dela. E está se dando bem.É o presidente mais popular do mundo.E, espere. Ela ainda vai impressioná-lo com a retórica. Ainda não chegou a hora e o TSE está de olho. A oposição mais ainda. Aliás, esta sabe que não vencerá. Com a saida do Aécio, Minas vota em peso em Dilma. É boa administradora e é mineira de BH.

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